Mordeduras humanas ocupacionais

meras agressões ou acidentes de trabalho com risco biológico?

Autores

  • Gonçalo Botelho Rodrigues Serviço de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Autor
  • V. Pacheco Serviço de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Autor
  • M. Beleza Serviço de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Autor
  • L. Silva Serviço de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Autor
  • C. Leitão Serviço de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Autor
  • T. J. Rodrigues Serviço de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Autor
  • R. Baptista-Silva Serviço de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Autor
  • A. Afonso Serviço de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Autor
  • I. Antunes Serviço de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Autor

DOI:

https://doi.org/10.65332/rpdi.v18.121

Palavras-chave:

Mordedura Humana Ocupacional, Acidente de Trabalho, Agressão a Profissional de Saúde

Resumo

Introdução:
As mordeduras humanas ocupacionais (MHO) associadas aos cuidados de saúde são uma causa pouco frequente de acidentes de trabalho (AT). Contudo, levam a uma grande ansiedade dos sinistrados e a abordagens médicas muito díspares. A literatura científica sobre a sua ocorrência é quase inexistente, sendo, habitualmente, relatadas como “agressão” e associadas a doentes do foro psiquiátrico.

Objetivos:
Caraterizar os acidentes de trabalho por mordedura humana ocupacional (AT-MHO) de forma a permitir o planeamento de uma intervenção adequada do Serviço de Saúde Ocupacional (SSO).

Métodos:
Estudo retrospetivo de análise dos AT ocorridos num grande centro hospitalar português num período de 10 anos (2013-2022). Foram contabilizados o número de acidentes, de infeções da ferida e de transmissão de agentes microbianos e foram analisadas variáveis relativas ao contexto do AT, à lesão resultante e à assistência médica.

Resultados:
Foram contabilizados 21 AT-MHO representando 1,5% dos AT com exposição a fluidos orgânicos potencialmente infetantes. O grupo profissional mais afetado foi o dos enfermeiros (83%), a faixa etária mais atingida foi a dos 30-34 anos (20%) e 41% dos eventos ocorreu no turno da noite. A maioria das MHO (78%) ocorreu em internamentos não-psiquiátricos e em serviços de urgência, associadas à administração de medicação oral, à colocação de meios físicos de restrição da mobilidade e à prestação de cuidados de higiene (60%). Os doentes foram descritos como agitados (47%), desorientados (18%) ou agressivos (12%). Contudo, em nenhum dos casos foi referida uma agressão voluntária. A zona anatómica mais atingida foi a mão (55%) e 67% dos casos resultaram numa solução de continuidade. Não foram registadas infeções da ferida, nem a transmissão de agentes microbianos. Foi elaborada uma proposta de atuação perante AT-MHO.

Conclusões:
O presente trabalho indica que as MHO não constituem agressões voluntárias a profissionais de saúde: estarão, maioritariamente, associa prestação de cuidados a doentes com alteração do estado de consciência em internamentos não-psiquiátricos. O risco de infeção local descrito na literatura não pode ser negligenciado, exigindo que estes AT contem com a intervenção do SSO responsável, como centralizador da atuação e garante do seguimento dos trabalhadores.

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Publicado

2023-05-01

Como Citar

Botelho Rodrigues, G., Pacheco, V., Beleza, M., Silva, L., Leitão, C., Rodrigues, T. J., Baptista-Silva, R., Afonso, A., & Antunes, I. (2023). Mordeduras humanas ocupacionais: meras agressões ou acidentes de trabalho com risco biológico?. Revista Portuguesa De Doenças Infecciosas (RPDI), 18(2-3), 78-86. https://doi.org/10.65332/rpdi.v18.121