Mordeduras humanas ocupacionais
meras agressões ou acidentes de trabalho com risco biológico?
DOI:
https://doi.org/10.65332/rpdi.v18.121Palavras-chave:
Mordedura Humana Ocupacional, Acidente de Trabalho, Agressão a Profissional de SaúdeResumo
Introdução:
As mordeduras humanas ocupacionais (MHO) associadas aos cuidados de saúde são uma causa pouco frequente de acidentes de trabalho (AT). Contudo, levam a uma grande ansiedade dos sinistrados e a abordagens médicas muito díspares. A literatura científica sobre a sua ocorrência é quase inexistente, sendo, habitualmente, relatadas como “agressão” e associadas a doentes do foro psiquiátrico.
Objetivos:
Caraterizar os acidentes de trabalho por mordedura humana ocupacional (AT-MHO) de forma a permitir o planeamento de uma intervenção adequada do Serviço de Saúde Ocupacional (SSO).
Métodos:
Estudo retrospetivo de análise dos AT ocorridos num grande centro hospitalar português num período de 10 anos (2013-2022). Foram contabilizados o número de acidentes, de infeções da ferida e de transmissão de agentes microbianos e foram analisadas variáveis relativas ao contexto do AT, à lesão resultante e à assistência médica.
Resultados:
Foram contabilizados 21 AT-MHO representando 1,5% dos AT com exposição a fluidos orgânicos potencialmente infetantes. O grupo profissional mais afetado foi o dos enfermeiros (83%), a faixa etária mais atingida foi a dos 30-34 anos (20%) e 41% dos eventos ocorreu no turno da noite. A maioria das MHO (78%) ocorreu em internamentos não-psiquiátricos e em serviços de urgência, associadas à administração de medicação oral, à colocação de meios físicos de restrição da mobilidade e à prestação de cuidados de higiene (60%). Os doentes foram descritos como agitados (47%), desorientados (18%) ou agressivos (12%). Contudo, em nenhum dos casos foi referida uma agressão voluntária. A zona anatómica mais atingida foi a mão (55%) e 67% dos casos resultaram numa solução de continuidade. Não foram registadas infeções da ferida, nem a transmissão de agentes microbianos. Foi elaborada uma proposta de atuação perante AT-MHO.
Conclusões:
O presente trabalho indica que as MHO não constituem agressões voluntárias a profissionais de saúde: estarão, maioritariamente, associa prestação de cuidados a doentes com alteração do estado de consciência em internamentos não-psiquiátricos. O risco de infeção local descrito na literatura não pode ser negligenciado, exigindo que estes AT contem com a intervenção do SSO responsável, como centralizador da atuação e garante do seguimento dos trabalhadores.
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Direitos de Autor (c) 2023 Gonçalo Botelho Rodrigues, V. Pacheco, M. Beleza, L. Silva, C. Leitão, T. J. Rodrigues, R. Baptista-Silva, A. Afonso, I. Antunes (Autor)

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